Cai a cortina para além dos sonhos.
Sigo em alerta por trilhos sonâmbulos, acordada,
Mas ainda dura a sensação do sono…
É que a paz fulgurou branca de fora para dentro
Do meu corpo. E com um brando movimento,
Inundou meus sentidos de acalento!
Existe um jardim bem perto onde vaga a loucura,
Meus pés andam pelo lodo espertos,
Seguindo estranhas criaturas…
Fizeram algazarra, gritos de júbilo!
Anunciando que no jardim chegado mora a cura.
Atônita, não entendia: Nesse mesmo jardim vaga a loucura!
Pisei, não imune, em espinhos muito amargos,
Tive visões ilustres:
Vi fadas sussurrando no ouvido dos magos!
Eis que cobiçei uma delas
E colhi o mais belo lírio,
Para entregar-lhe no lusco-fusco…
Pequena tentação, agradeceu-me com um beijo distante.
Logo tingiu-se de negro o meu semblante:
Minha noite de delírios escuros!
Vi a velhice degenerativa do tempo,
Arqueando a natureza vistosa.
Vi tragédias e monumentos!
Mas já vem chegando a alvorada,
Minhas visões mudam como crianças ávidas,
Sinto-me surpresa como na chegada…
Uma neblina incandescente derrama lenta
Sobre a atmosfera serenada de inverno.
Atrás do jardim, ergue-se um rio fluente!
Lavo a cabeça por estas águas sagradas,
As flores brilham sobre a grama,
Onde insetos fantásticos riscam versos de esmeralda.
Cordas de teias, percussão de troncos, sopros de pássaros.
Tudo vibra em instrumentos e dá-se início o concerto
A ritmar todas as cenas e minha direção…
E à procura do mar de ou(t)ro iluminado,
Meus olhos viajam feito nômades
Pelas veredas da imaginação.
Ilustração por Olaf Hajek.